O imóvel
localizado na Avenida Rui Barbosa nº 762, que já funcionou como hotel, como
internato de uma escola de enfermagem e como alojamento universitário, foi
concebido em estilo eclético e inaugurado em 1922. Noventa anos depois, a Casa
Cor resgata a sua história através da mostra concebida com base nas moradias
mistas, onde espaços com dimensões diferenciadas assumem funções distintas,
ocupados por usuários oriundos de diversas procedências, sejam econômicas ou
sociais.
Moda, estilo
e tecnologia são os temas de Casa Cor 2012 em todo o Brasil.
Esta 22ª
edição da Casa Cor Rio de Janeiro define a Moda na Arquitetura como soluções
viáveis e práticas na concepção dos mais de 50 ambientes por cerca de 80
profissionais das áreas de arquitetura, design de interiores e paisagismo, de
forma elegantemente personalizadas e tecnicamente bem resolvidas, segundo os
mais recentes processos evolutivos dos materiais de acabamento, acessórios e
equipamentos.
A mostra
integra as primorosas características arquitetônicas e estruturais originais –
pisos, paredes, tetos, esquadrias e adornos, às soluções e respectivos
elementos de composição propostos, e se desenvolve nos quatro pavimentos da
edificação principal, segundo as seguintes funções:
(a) Térreo:
hoteleira
(b) Primeiro
piso: residencial
(c) Segundo
piso: comercial
(d) Terceiro
piso: lazer
Nesta
cobertura, o Circuito Revista limita o universo de ambientes àqueles que, de
alguma forma, permitiram que elementos da arquitetura originais fizessem parte
de seu espaço, tirando partido e dinamizando o potencial dos mesmos enquanto
composição e harmonia.
A cobertura
foi parcial, não contemplando todos os ambientes da mostra.
A leitura dos
espaços não pretende descrever o óbvio, mas desvendar, nem que por intuição, um
segundo das muitas horas de concepção de seus autores.
A aparência
muitas vezes dramática das fotos, contrastando os claros e os escuros, é
proposital, com vistas à percepção dos espaços sob a ótica da iluminação
artificial.
Lobby – Recepção, por Pedro Paranaguá
Valorização do piso e dos adornos
de parede originais, através do forte impacto cromático aplicado às paredes. A
suavidade da iluminação ambiente se dá de forma indireta, através de de
luminárias esculturais e recursos quase cenográficos que se integram à
serralheria do elevador, guarda-corpos da escada, e de forma direta, destacando
os elementos decorativos.
Lounge
do Hotel, por Gisele Taranto
Assimilação das paredes e
esquadrias originais que se integram à ambientação através de suas cores e
aspecto deteriorados, potencializada pela grande extensão de patchwork de
tapetes orientais, servindo como base neutra para o mobiliário e
objetos de estilos distintos que compõem os diversos ambientes. A iluminação
principal, direta e difusa, fica por conta de luminárias decorativas sob teto
de policarbonato sustentado por estrutura metálica. Destaque para o painel
executado com livros junto à estante localizada no ambiente de leitura, em se
tratando de uma instalação provisória, primorosa e dramaticamente iluminada,
realçando a textura formada pela sobreposição dos volumes.
Living, por Erik Figueira de Mello
Territorialidade do espaço
definida pela preservação do piso nas áreas de circulação periférica, integrado
aos rodapés e alizares dos vãos das portas, todos originais, em madeira, restaurados,
acolhendo um grande estar e uma mesa de leitura. Diversas peças de mobiliário,
também em madeira, dão tom contínuo ao conjunto, quebrado pela estante de
livros em ferro e madeira de tom distinto, compondo com o estilo cenográfico da
iluminação direta sob trilhos, por sua vez adornados pela fiação
propositalmente exposta, destacando as obras de arte em diversos planos.
Business Center, por Márcia Müller e Julia Abreu
No conjunto formado por quatro
ambientes distintos, a partir de um hall de distribuição que conduz aos demais,
percebe-se o zelo pelo restauro da carpintaria original através da preservação
e exposição total do piso em sua forma natural, da mesma forma que as folhas
das janelas. Quanto aos tetos e rodatetos, da mesma forma que alizares,
guarnições, rodapés e balaústre de vedação de meia parede, foram cuidadosamente
restaurados e pintados. As paredes também foram acabadas de forma criteriosa:
as internas, revestidas com papel acamurçado e as periféricas externas, expostas
em tijolo maciço original. O mobiliário em madeira e estofaria, seguindo a
linguagem do couro, dão tom de sobriedade e aconchego aos ambientes. A
iluminação foi tratada de forma pontual e dramática, destacando, ora detalhes
arquitetônicos e respectivas texturas, ora mobiliário, objetos decorativos e
pontos de leitura de documentos. A luz difusa indireta na grande sala de
negócios é promovida por luminárias decorativas tipo móbile. Destaque para
detalhe de luz e sombra do balaústre junto ao teto projetado no hall de
distribuição.
Sala de Convivência, por Andrea Chicharo
O elemento madeira presente no mobiliário,
nas paredes e no objeto decorativo contra a parede contracenam com a estrutura
do teto, com as portas e respectivas guarnições e com a escada e seu guarda
corpo, também em madeira. A tudo isso, somam-se sofás e chaises como bases
neutras em contraste com as almofadas, mantas e mesas de apoio dotadas de cores
vibrantes. Destaque para a iluminação que valoriza os elementos e detalhes
construtivos originais que, por sua vez, funcionam como aconchegantes
rebatedores de luz, acentuando a dimensão por detrás da cenografia. Conjunto de
pendentes projeta luz difusa funcional e para destaque dos elementos de
circulação vertical originais da edificação.
Estudio 01, por Paloma Yamagata
A porta de acesso original permanece como única lembrança da arquitetura original, como um portal que liga o antigo com o contemporâneo. De resto, um Ovo de Colombo que abriga o estúdio composto por hall de acesso e estar num primeiro nível, mini copa com bar e guarda roupas em nível intermediário e dormitório com banheiro completo no jirau. Esse programa concebido em 18,00 m2 de área em projeção só foi possível devido à verticalização do aproveitamento do espaço e da racionalização da circulação vertical. A escada de acesso ao jirau foi adaptada a partir do modelo concebido por Santos Dumont, cujos degraus foram aproveitados como nichos como suporte de livros e objetos. Visando à maximização do uso do plano horizontal e à eliminação de barreiras visuais, a estrutura do jirau foi concebida a partir de tirante executado com vidro temperado laminado. A arquitetura de interiores entra em segundo plano, não menos tão bem concebida quanto o espaço, antes de tudo, arquitetônica e tecnicamente resolvido.
Estúdio da Estilista, por Gabriela Eloy e Carolina Travaglini
O madeiramento do piso, teto e
esquadrias originais são familiares ao revestimento de parede, cuja textura, à
semelhança dos tijolos maciços, é realçada pela iluminação tangencial.
Equipamentos funcionais e objetos de decoração estilo retrô se harmonizam com
os equipamentos contemporâneos dotados de design e tecnologia de ponta. O
mobiliário em madeira, juntamente com sofás, cadeiras e poltronas clássicas,
completa a atmosfera aconchegante ao
estúdio.
Apartamento da
Fotógrafa, por Adriana Valle e Patricia
Carvalho
A definição do espaço tem como
princípio a montagem cenográfica a partir da sobreposição de planos verticais
em pinus sobre o piso original em madeira. As tábuas definem ritmo pela sua horizontalidade,
ao mesmo tempo em que os veios e marcas aleatórias naturais definem a fluidez
inerente à própria madeira. As paredes
relativas à arquitetura original são anuladas pela ausência de cor e iluminação
incidente, criando um fundo infinito. As cores primárias dos objetos e
equipamentos, em especial, a cor vermelha, quebram uma possível tendência à
monotonia cromática. A iluminação, dramaticamente teatral, destaca os elementos
decorativos relevantes.
Apartamento
Carioca, por Alexandre Lobo e Fábio
Cardoso
Madeira contrastando com ferro,
alvenaria natural aparente contrastado com papel de parede se passando por
natural, elementos decorativos despojados em consonante com a explosão de cores
detonadas pela iluminação dirigida e pelos objetos de luz. Sobre o piso de
madeira natural original, tapetes que trazem aconchego aos pés dos usuários,
sem competir com a base, muito menos ocultá-la como um todo. Tudo isso em
harmonia com o jeito carioca de ser.
Loft + Rio, por Luiz Fernando Grabowsky
Como se o pé direito original
fosse insuficiente, comparados aos lofts
novaiorquinos, as paredes despidas e expondo seu material natural ou ocultas
pelas estantes ou pelos pórticos de passagem entre os distintos ambientes,
foram segmentadas, escalonadas, e receberam
funções específicas, aumentando, virtualmente, a percepção da
verticalidade do espaço como um todo. A diversidade de planos, as cavidades e
os planos vazados também chegam aos tetos, aumentando a sensação da
continuidade vertical do espaço. Os truques de iluminação e aumentam a
profundidade dos nichos, da mesma forma que geram contrastes entre luzes e
sombras, contrapondo com os planos de
cores vibrantes das superfícies verticais planas. Um espaço longe de ser
simplesmente admirado, mas percebido sob todos os ângulos possíveis e
imagináveis.
Studio do Designer,
por Dani Parreira e Flávia Santoro
O elemento madeira toma conta da
atmosfera do ambiente, não fosse esse elemento a matéria prima a partir da qual
o designer desenvolveu sua vasta coleção de peças de mobiliário. O jirau,
iluminado cenograficamente, destaca uma das peças ícones do mobiliário
brasileiro ao mesmo tempo em que um conjunto de luminárias pendentes,
executadas com bancos de ponta cabeça e equipadas com lâmpadas incandescentes,
preenche, de forma lúdica, o espaço aéreo correspondente ao pé direito duplo. Os
materiais de revestimento de parede e piso, juntamente com os objetos retrô,
compõem com os quadros que exibem os croquis de concepção das peças do
designer, hoje clássicas e atemporais, integrando o forro e esquadrias em
madeira originais do casarão como se houvessem sido projetados especificamente
para esse espaço.
Home Office, por Ana Lila Denton e A. Juarez Farias Jr.
Neste espaço, o teto é limitado
visualmente por grandes luminárias pendentes que geram uma iluminação uniformemente
distribuída. O piso, tão original quanto o teto do imóvel, é quase cem por
cento oculto por um gigantesco patchwork de tapetes orientais, atribuindo ao
mesmo, aspecto tão desgastado quanto a própria madeira deve ter sido sido
através dos tempos. Entre esses dois planos, ao lado de esquadrias, também
remanescentes da arquitetura original, foram postos, em estreito e harmonioso
convívio, mobiliário contemporâneo, equipamentos de última geração e obras de
arte, criteriosamente iluminados, com destaque para o escultórico sistema de
iluminação da mesa de trabalho.
Sala de Jogos, por
Carlos Murdoch, Geórgia Mantovani e
Luciana Sodré
Apesar o estilo futurista da
ambientação da sala de jogos, a manutenção das esquadrias originais da
edificação foi sedimentada pela conexão feita pelos objetos retrô juntos aos
equipamentos de imagem e som e pelas obras de arte que remetem ao grafismo
tribal. A atmosfera lúdica fica por conta das esculturas e painéis com temas
automobilísticos e ciclísticos e pelas cores estrategicamente lançadas no
ambiente.
Foyer do
Brigadeiro, por Escala Arquitetura,
Carolina Escada e Patricia Landau
O espaço desnudo se basta como
arquitetura. Como foyer, tetos, paredes, pisos, esquadrias, todos originais,
careciam de critério lógico, conceitual e subjetivo visando à definição dos
territórios enquanto local de grande circulação, de descanso, de contemplação e
de degustação, até que foram, estrategicamente definidos pelo projeto. A
ambientação traz consigo a linguagem da gastronomia e do turismo através dos
objetos e utensílios lançados aleatoriamente nas paredes e no chão, sobre o
revestimento original ou sobre o tapete, despojadamente multicolorido. Preserva
o aconchego e a privacidade dos locais de estar através de barreiras físicas e
do próprio mobiliário que, juntamente com obras de arte, foram dispostos de
forma imprevisível e inovadora.
Estúdio do
Marchand, por Mario Costa Santos, Elaine
Amarante e Denise Niemeyer
A contraposição de revestimento
de parede à original libera visualmente uma tímida e estreita faixa junto ao
teto. Fato este compensado pela disposição de elementos decorativos e de
iluminação pendentes estrategicamente lançados, que atraem os olhos para o
contraste formado entre os resquícios de alvenaria em tijolo maciço, trilhos e
eletrocalhas de suporte às instalações e iluminação e a organização do espaço
ao nível do observador. Em sintonia com
o ar elegantemente despojado da ambientação, o revestimento de piso e
esquadrias foram preservadas, não fosse a arquitetura do casarão, também uma
obra de arte para o marchand.
Flat do Jornalista, por Caco Borges
Madeira, aço, vidro, revestimento
como se fosse vidro, vidro como se fosse estrutura. Um mix de materiais como as
idéias e focos de interesse de um profissional que, dentro do universo que
vive, gosta do bom gosto e da organização de seu espaço de forma personalizada.
Um local de trabalho onde o foco é a atividade do momento. Um local para uma
refeição ligeira, que não minimiza a sofisticação do seu paladar. Um local para
acomodar seus destilados e fermentados e degustá-los em pouca, mas seleta
companhia. Um local para leitura de seus periódicos e livros. Um local para
higiene e repouso, como se em vigília constante, seu chão transparecesse o universo
de seu habitat. Os acabamentos, mobiliário, equipamentos e iluminação não
carecem de descrição, mas de observação, pois falam por si só. O conteúdo deste
espaço está no programa do flat, concebido de forma personalizada para o
jornalista.
A Joia da Casa,
por Filippi Sartori, Luciana Arnaud e
Mariana Dornelles
O projeto da joalheria nasceu de
um programa pré-definido, independente do espaço a ser instalado. O programa é
temático e, como todo tema bem desenvolvido, é rico em detalhes. A começar
pelos expositores das jóias executados com móveis antigos reciclados, remetendo
à memória afetiva dos clientes em total sintonia com o resgate histórico do
casarão. Parede tratada como obra de arte, pontuada por fibra ótica em alusão
ao brilho das jóias, da mesma forma que o lustre de cristal que, juntamente com
sua corrente, remete a uma jóia em escala considerável. Superfícies
translúcidas formadas por correntes de bronze que se cruzam numa alusão a instalação
de arte consagrada no meio das artes. Contra o calor latente da iluminação
artificial e da concentração de pessoas no local, num Rio de Janeiro
potencialmente quente, o projeto prevê sistema de ventilação cruzada através de
ventiladores de fibra de carbono estrategicamente camuflados. O resquício da
arquitetura original fica por conta da preservação das esquadrias originais –
um pequeno detalhe tratado como uma jóia.